sexta-feira, 20 de junho de 2014

Copa 2014: análise do Grupo E - Suiça, França, Honduras e Equador

(texto publicado no Jornal da Afipea)

O Grupo E já começa deixando o torcedor confuso. Como assim a Suíça é a cabeça-de-chave, enquanto a França apenas completa o grupo, junto com Honduras e Equador? Afinal, todos nós somos do tempo em que cabeça-de-chave era uma honra reservada aos que tinham títulos no currículo, ou ao menos um terceiro lugar, como foi o caso da Polônia em 1986 e da Bélgica em 1990.

Mas, Suíça?

Bem, o ponto é que a Suíça fez a melhor campanha nas eliminatórias europeias, por isso ficou bem no tal ranking da Fifa, que foi usado como critério pra eleger os cabeças-de-chave. O grupo da Suíça nas eliminatórias, vamos combinar, era uma baba. Ou uma briga de faca no escuro, depende de como você olha. Suíça, Eslovênia e Noruega disputariam em condição de igualdade a vaga direta e a vaga na repescagem, enquanto Islândia, Chipre e Albânia cumpririam tabela. Bom, não sei o que aconteceu, mas Noruega e Eslovênia deixaram a desejar, a Suíça disparou, e a vaga na repescagem ficou com a Islândia – que infelizmente perdeu o duelo para a Croácia. Digo infelizmente porque, jogando meu Football Manager 2005, já levei a Islândia não apenas à Copa, mas a um honroso quarto lugar, escrete liderado pelo matador Gudjohnsen.

Mas voltemos à Suíça. Em 2010, apesar de ter vencido a Espanha que seria campeã, perdeu para o Chile e ficou no 0 a 0 com Honduras – duelo que aliás se repetirá agora, sob o gélido inverno de Manaus. Também não se classificou para a Eurocopa 2012, e embora tenha participado da Euro 2008 por ser anfitriã, caiu já na fase de grupos. O que poderá ser feito de diferente desta vez?

Talvez uma vaga nas oitavas, a depender do desempenho de quatro jogadores: Behrami e Inler, a dupla de volantes criativos e bons chutadores que comandam também o meio campo do bom time do Napoli, terceiro lugar no Italiano;  e Shaquiri e Xhaka, velozes meias-atacantes de apenas 22 anos, hoje respectivamente reservas de luxo no Bayern Munich e no outro-Borussia-que-não-é-o-Dortmund.

Apesar do nome de lutador de Morkal Kombat, Xhaka e Shaquiri nasceram em Kosovo no início da longa década de 1990 nos Balcãs, fugindo das guerras ainda bebês junto com suas famílias para a Suíça. Behrami, aliás, também é nascido em Kosovo. O que me faz pensar que bela seleção a Iugoslávia teria sido nos últimos 20 anos, não fossem as guerras. Inler, por sua vez, é filho de turcos, e todos estes quatro meio campistas da Suíça são muçulmanos.

Muçulmanos também são Ribery, Benzema e Zidane, craques da França. Ops, mas o Zidane não vai jogar. Pois é, e o Ribery também não. Então temos que nos atualizar sobre quais os nomes que podem despontar no escrete francês. O jovem zagueiro Rafael Varane, que com apenas 21 anos já é uma espécie de 12º jogador do Real Madrid é uma boa aposta, assim como também vale a pena observar o igualmente jovem Paul Pogba, titular absoluto no meio campo da Juventus campeã do Italiano, ao lado de Andrea Pirlo.

No ataque, a vaga de Ribery deve ser disputada por Griezmann, que fez um caminhão de gols no Espanhol jogando pelo Real Sociedad, mas que eu confesso nunca tinha ouvido falar dele até este exato momento. Mas quem eu gostaria de ver assumindo a vaga no ataque titular é Olivier Giroud, por um motivo muito simples: no meu time no PES ele é um artilheiro cabeceador espetacular, nível Jardel. Se na vida real ele tiver a testa tão eficaz quanto no videogame, a França pode se tornar um oponente ainda mais indigesto, pois o esquema do técnico Deschamps explora bem o apoio dos laterais Debuchy e Evra, segundo dizem.

Nas eliminatórias, a França teve um caminho muito mais duro que a Suíça: caiu no grupo da Espanha, vejam vocês. Franceses e espanhóis despacharam sem problemas os coadjuvantes Geórgia, Finlândia e Bielo-Rússia, mas no duelo direto a Fúria levou a melhor com uma vitória e um empate, empurrando a França para o duelo de repescagem com a Ucrânia. No primeiro jogo, a Ucrânia abriu 2 a 0 jogando em casa e colocou a mão na vaga. Mas os franceses conseguiram 3 a 0 no jogo de volta, com uma arbitragem polêmica. Não tão polêmica quanto aquela da mão do Thierry Henry, na repescagem de 2010. Mas é que ficou estranho o fato de que, minutos após ter anulado um gol legítimo de Benzema, o juizão validou um gol do cara em absurdo impedimento. Ficou a impressão de que alguém mandou um "bizu" pro árbitro sobre o gol mal anulado, e aí ele resolveu validando o lance seguinte.

Honduras, pra mim e pra muita gente, sempre será o time do inesquecível Arzu, goleiro intransponível que quase levou sozinho seu time à classificação pra segunda fase em 1982, não fosse os dois pênaltis assinalados, única forma encontrada de fazer gol naquele gigante. A bandeira de Honduras estampou por um bom tempo a caixinha de fósforos usada como goleiro no meu time de botão. Do meu time de Masters, onde Arzu jogava junto com Garrincha, Eusébio e Passarela. No meu time “normal”, o goleiro era o Jorge Lourenço, e os craques, Berg, Mazolinha e Josimar – ser botafoguense nos anos 1980 não era nada fácil...

O time atual de Honduras é formado por jogadores que se dividem entre o futebol hondurenho, as “leagues” norte-americanas, e times ingleses de menor expressão. A exceção é o jovem meia Andy Najar, 21 anos, formado no DC United, mas que hoje é titular no meio campo do belga Anderlecht. Devem ser observados também o experiente Wilson Palacios, meia que já teve dias melhores jogando no Tottenham ali por 2010 e 2011, e hoje compõe elenco no Stoke City; e o atacante Jerry Bengtson, que aparentemente não levou seu faro de gol na bagagem quando saiu de Honduras para jogar no New England Revolution, de Massachussets.

Bengtson, aliás, fez mais gols em um único jogo das eliminatórias do que em toda a temporada na Major League: fez três na acachapante vitória por 8 a 1 sobre o Canadá, que confirmou a vaga de Honduras no hexagonal final (ahn?) das eliminatórias da Concacaf. Ficar entre os quatro primeiros no hexagonal a partir daí seria até fácil, bastava ficar na frente de Panamá e Jamaica, e depois encarar a Nova Zelândia na repescagem. Mas foi ainda mais fácil: o México se complicou tanto no tal hexagonal que ficou em quarto, deixando a vaga direta pra Honduras, e coube então aos mexicanos a tarefa de atravessar o Pacífico e carimbar a vaga no passaporte dando duas chineladas nos all-blacks.

Em seu último amistoso antes da estreia contra a França lá no Beira-Rio, a retranca de Honduras conseguiu segurar um 0 a 0 contra o belo, porém geriátrico, escrete da Inglaterra. Como parece ser frequente, teve um hondurenho expulso, o que pode ser fatal nos jogos da Copa.

O Equador, que estreia na Copa enfrentando a Suíça aqui no Mané Garrincha, fez a quarta melhor campanha nas eliminatórias da América do Sul, que é a única em formato de pontos corridos. No desempate, deixou o quinto lugar e a partida de repescagem para o Uruguai, que como está mais do que acostumado em carimbar a vaga, Copa após Copa, nesse bendito jogo extra contra Australias, Uzbequistões e assemelhados, não teve nenhum problema para despachar a Jordânia, por 5 a 0.

Mas o Equador construiu sua campanha toda nos jogos em casa – sete vitórias – enquanto que nos jogos como visitante só conseguiu três empates. O time é quase todo formado por jogadores que atuam nos principais times do Equador – LDU, Emelec e Barcelona. Do meio pra trás, o time não impressiona. Basta dizer que Erazo, titular da zaga, não tem ficado nem no banco de reservas do Flamengo. Do meio pra frente, a coisa muda um pouco. O craque do time é Antonio Valencia, titular do Manchester United, como meia aberto pela direita, mantendo o português Nani na reserva há pelo menos três temporadas. Acostumado a jogar em alto nível, é dele a responsabilidade por municiar os atacantes Felipe Caicedo, artilheiro do time nas eliminatórias, e Enner Valencia, artilheiro do Clausura mexicano pelo Pachuca, e que fez gol em todos os quatro amistosos do Equador em 2014.

Este texto não teria sido possível sem as informações contidas no site soccerway.com; no Álbum de Figurinhas Oficial da Copa; e no Especial Placar Guia da Copa 2014.

Curiosidades:
Não é surpreendente que a Copa com maior media de público tenha sido a de 1994, nos Estados Unidos? Nada menos que 68.991 torcedores por partida, muito à frente da segunda posição, que é da Copa de 2006 na Alemanha, com 52.491 torcedores. Não vai dar pra tirar esse recorde: apenas o Mané Garrincha e o Maracanã tem capacidade máxima maior do que a media de 1994. Mas talvez dê pra beliscar a segunda posição: Itaquerão, Mineirão e Castelão superam os 60 mil como lotação máxima, e os renovados Fonte Nova e Beira-Rio beiram os 50 mil.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Grandes Momentos, Pequenas Histórias: Amara e Mefisto.


Pra falar a verdade, logo assim, de so-pe-tão! ( como diria Guri ) nem foi essa a cena que me inspírou a escrever. Mas vamos começar por ela, pela simples razão de que esta revista caiu aqui na minha mão, e eu teria que procurar nas minhas caixas a revista onde está o monólogo de Wilson Fisk para os meninos dos Fugitivos, então aquela fica pra depois.

( Me dou conta agora que essa cena está em uma história dos Fugitivos escrita pelo, na época, famoso criador de Buffy, atualmente, uber-famoso e diretor d´Os Vingadores, Joss Whedon. )

Mas a nossa cena de hoje é a do encontro romântico entre Amara Aquilla e Mefisto.

Amara Aquilla, codinome Magma, é uma das alunas da Escola Xavier, integrando a equipe dos Novos Mutantes. Que eram novos, de fato, lá nos meados dos anos 80, quando entram na Escola ali logo depois da Kitty Pryde, um pouco depois da Saga da Fênix.


Os Novos Mutantes tiveram seus momentos de glória quando desenhados por Bill Sienkiewicz, justo no momento em que ele introduziu seu estilo expressionista ( ou impressionista? ) nos quadrinhos.



Após tantos anos, já tiveram várias formações, mortes e retornos etc etc, mas nos últimos anos voltaram com a formação "clássica": Sam, Dani, Beto, Doug, Warlock, Illyanna e Amara, mas sem a Rahne.  Mais recentemente, Illyanna foi promovida à equipe principal de X-Men, sob o comando de Scott Summers, e quem lê os quadrinhos que estão na banca neste exato momento sabe que o trem está bastante zoneado. A ponto de Sam e Beto virarem figurantes de luxo nos Vingadores.

Mefisto é, para todos os efeitos, o "coisa ruim" senhor dos infernos do Universo Marvel. Seu inferno nem de longe é tão assustador quanto o inferno da DC/Vertigo das historias do Constantine, mas enfim, é ele o mal encarnado da Marvel, responsável por figuras como o Motoqueiro Fantasma. Teve seu apogeu quando, escrito por Stan Lee e desenhado por John Buscema no final dos anos 60, aporrinhava a vida do Surfista Prateado apenas para testar a nobreza d´alma de Norrin Radd e tentá-lo em seus "instintos mais primitivos". Costuma ser interessante também quando trabalha ao lado de Loki ou de Thanos.

Bem, em uma aventura que não importa muito, os Novos Mutantes se perdem entre as dimensões e vão parar por engano no Inferno. Após muita negociação, Mefisto oferece uma barganha impensável: deixa os meninos saírem do inferno numa boa, se a bela Amara Aquilla aceitar sair com ele num encontro. Sem ter lá grandes opções, ela aceita, certa de que vendeu sua alma em alguma letrinha miúda do contrato. Todos são enviados de volta pra casa.

Semanas depois, ou algumas revistas depois, Mefisto aparece em um belo terno, com um buquê de flores nas mãos, para cobrar o encontro. Leva Amara para jantar no melhor restaurante do inferno, onde a música ao vivo fica por conta de Amy Winehouse, Robert Johnson e Amadeus Mozart.

Depois é ela que o leva para comer num daqueles cafés de Nova York. Onde acontece a cena a seguir.



Um inesperado grande momento dos quadrinhos, escrito por Dan Abnett e Andy Lanning, desenhado por David e Alvaro Lopez.
Publicado originalmente em New Mutants 37, de abril de 2012.
Edição brasileira, em X-Men Extra 136.1, abril de 2013, editora Panini Comics.

Axé!!
Zeh

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Grandes momentos, pequenas histórias...


Há tempos que venho pensando em escrever algo sobre quadrinhos. Na verdade, eu falo tanto sobre o assunto que realmente não deve ser impossível escrever sobre.  

( Lígia, particularmente, é uma das que mais me cobra a respeito. )

Mas sempre adiei. Em parte porque se há algo no que sou realmente bom, é na arte da procrastinação. O que não me impede de pintar belos caranguejos de vez em quando.
Mas o caranguejo fica pra outro post.

( Sim, eu reconheço, é um golpe baixo para tentar segurar a audiência. )

Onde eu estava... ah sim. A outra razão pela qual eu adiava era o receio de redundância. Afinal, convenhamos, o mundo não precisa de mais uma coluna sobre porque O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller é um divisor de águas na vida do ícone morcegão. Nem porque qualquer uma das todas obras geniais do Alan Moore precisam ser lidas.

( Sério, tudo mesmo. De Watchmen e V de Vingança até aquela historinha despretensiosa do Superhomem que virou um clássico definitivo, e ainda melhorou na adaptação que Dwayne McDuffie,  que Deus o tenha em bom lugar,  fez para a Liga sem Limites. )

Mas um dia, que não foi hoje, aliás já faz algum tempo (procrastinação...) tive uma ideia. E as historinhas toscas? Despretensiosas? De personagens que estão longe do primeiro escalão, que nunca vão chegar no cinema ou nos bonequinhos nas prateleiras? Algumas dessas histórias tem cenas absolutamente imperdíveis. Precisam ser compartilhadas. E é por aí que nós vamos.

Axé!
Zeh

PS: Quanto ao futuro nunca se sabe. Rocky Racoon está prestes a estourar nos cinemas. Então aquele personagem de segunda ou terceira divisão sempre pode surpreender.

domingo, 31 de outubro de 2010

O Botafogo será Campeão Brasileiro em 2010!! Quem me disse? Diego Tardelli...


Botafogo campeão carioca de 1989


Uma das minhas frases feitas prediletas - que repito invariavelmente quase todos os dias, pois quase todos os dias ela se faz necessária em alguma discussão, é a seguinte:

"O Botafogo me ensinou uma coisa, desde que era pirralho: no fundo do poço, sempre há um alçapão."

Ou seja, nada me surpreende.

Em 1989, o Botafogo percorria o seu 21o. ano sem títulos. Mas o jejum terminaria naquele ano, de modo que foram 20 anos sem títulos - e não 21, ora essa. Nascido em 1974, não tinha visto ainda o Botafogo ser campeão.

Verdade seja dita, demorei a gostar de futebol. Os primeiros jogos com que vibrei foram os da Seleção nas eliminatórias da Copa de 1986, onde Renato Gaucho e Casagrande demoliam quem passasse pela sua frente - sempre com a narração genial de Silvio Luiz.

No meio campo pouco empolgante, dois jogadores raçudos seguravam as pontas - o botafoguense Alemão e o atleticano Elzo. Depois, na Copa de 86 propriamente dita, Josimar surgiu para fazer história e depois novamente voltar a sua vida discreta no Botafogo. Outros craques desses difíceis meados dos anos 80 foram Helinho, Berg, e Carlos Magno. E muitos anos antes de Castillo, houve outro goleiro da seleção uruguaia, o Alvez - que não fez grandes coisas no Botafogo mas daria um título de Copa America ao Uruguai em 1995 - pegando um penalty batido por Tulio Maravilha...

Era difícil a vida de alvinegro naquela época - sim, jovem gafanhoto padawan alvinegro, vc se acha sofredor com os vices cariocas, com a passagem purificadora pela Honrada Segundona, veja bem...

O Flamengo tivera o seu melhor time de todos os tempos, campeão brasileiro e mundial no inicio dos 80. E fora novamente campeao brasileiro em 1987, com um time que mesclava "velhos" craques - Zico, Andrade, Leandro - com os "jovens" - Jorginho, Bebeto e Leonardo. E com o Renato Gaúcho em sua melhor forma.

O Tricolor tinha o Casal 20 - Washington e Assis -, o paraguaio Romerito, Ricardo Gomes na zaga, o jovem - e magro - Branco, e mais o goleiro Paulo Vítor.

O Vasco tinha Roberto Dinamite, Romario, Geovani, além de Acácio, Mauricinho e do futuro craque da Parmalat, o tetracampeao Mazinho.

(Acácio, aliás, foi durante anos preparador de goleiros no Botafogo, e tem tudo a ver com a bela geração de goleiros que o Botafogo hoje ostenta, com Jefferson na seleçao e Renan, Milton e Luiz Guilherme acostumados a defender a amarelinha nas seleções de base)

Até mesmo o Bangu chamava mais a atenção. Vice-Campeão brasileiro em 1985, tinha bons jogadores como Marinho, Fernando Macaé, Paulinho Criciúma, Ado e o goleiro Gilmar.

Empolgado com o vice-campeonato e com a disputa na Libertadores, o bicheiro Castor de Andrade, manda-chuva eterno do Bangu, trouxe dois craques de nível de seleção para o time: o zagueiro Mauro Galvão, ídolo no Inter, e o meio-campista Neto - que faria historia no Corintias anos depois.

O que isso tem a ver com o Botafogo? Tudo ué!

A campanha do Bangu na Libertadores foi desastrosa. E o surgimento do Clube dos Treze tirou Bangu e América da primeira divisão do Brasileirão em 1987. Não havia como manter o elenco.

Foi então que outro bicheiro, Emil Pinheiro, então manda-chuva no Fogão, levou meio time do Bangu para Marechal Hermes - sim, na época o Botafogo não habitava em General Severiano. Mauro Galvão, Marinho e Paulinho Criciúma chegaram pra defender o Botafogo em 1988.

(Logo depois, Marinho sofreria uma tragédia que praticamente o tirou dos gramados)

A campanha do Botafogo naquele brasileiro foi mediana - ficaria em nono lugar. Mas no 1o. de dezembro de 1988, uma menina gandula com nome de guerreira bárbara chorou ao assistir a mais uma derrota do Botafogo.


Jornal Extra - RJ

E a partir daí o time não perdeu mais.

E atravessaria o primeiro semestre de 1989 sem perder, chegando invicto à final do Carioca. Invicto, mas também sem vencer nenhum clássico. O que não dava lá tanta segurança.

E então uma rediviva camisa 7, vestida pelo Mauricio, fez o gol que encerraria o jejum. Com um discretíssimo empurrão no Leonardo, deveras.



Mas, pra mim, o momento em que achei que dava pra ganhar aquele carioca aconteceu rodadas antes.

O temível Americano de Campos era ainda mais temível naqueles tempos. Jogava lá um atacante chamado Amarildo que era carne-de-pescoço (e adorava fazer gol nos tais "times grandes").

Umas rodadas antes das finais, o Botafogo foi a Campos enfrentar o Americano. Não me lembro sequer se esse jogo terminou zero a zero, ou se o Botafogo ganhou...

Só o que eu me lembro é que lá pelos 30 do segundo tempo o tal do Amarildo arrancou num contra ataque, invadiu a grande área sozinho e mandou o sarrafo - que explodiu no travessão.

O tipo de sorte de campeão que não costuma acontecer com times como o Botafogo.

Pois então.

Estava satisfeito, torcendo pela vaga no G-4, que levaria o Botafogo a uma Libertadores. Mas depois desse lance de Diego Tardelli - aos 5:09 do vídeo - passei a acreditar no título.

Afinal, quem foi que disse que a profecia dos Trapalhões dizia respeito apenas ao Carioca...



Axé!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Finalmente!! A Sapucaí virou uma página

Tá legal,antes de mais nada vou logo avisando: não entendo nada de Carnaval, muito menos de Escola de Samba. Mas vou dar meus pitacos.

Por razões familiares e geográficas, me entendo como torcedor da Mocidade Independente de Padre Miguel - coisa que nos últimos 10 ou 12 anos não tem tido a menor graça. Respeito o passado de glórias da Portela e, apesar de adorar os gigantescos compositores que a Mangueira gerou para a música brasileira, sempre torcia contra na hora da apuração.

(Talvez porque o mangueirense mostrasse uma certa empáfia que me lembrava a dos flamenguistas, mas isso já é outra história)

Aí havia Beija-Flor, Salgueiro, Vila Isabel - escolas as quais eu era indiferente -, União da Ilha e Caprichosos de Pilares com seus sambas irreverentes,

"Aquela seleção Nacional - e derreteram a Taça na maior cara-de-pau!"

("E por falar em saudade", Pilares 1985)

e o Império Serrano - que tinha forte torcida na minha rua porque na época o seu puxador de samba (Interprete! corrigiria Jamelão) era nosso vizinho.


Bum Bum Paticumbum Prugurundum, Imperio Serrano, 1982. Interprete: Quinzinho.

E haviam as que se revezavam subindo e caindo do grupo Especial: São Clemente, Império da Tijuca, Unidos do Cabuçu, e Unidos da Tijuca.

Na virada da década, Renato Lage deu á Mocidade de Padre Miguel o título de 1990, com um enredo auto-biográfico (pasmem), e a seguir o bicampeonato com as águas em 1991.



O tri que deveria ter vindo em 1992 com "sonhar não custa nada" não veio. Começavam os anos 90.

Ah, pára tudo. Esqueci de um desfile inesquecível. (Hum, frase infeliz.)

A Kizomba, Festa da Raça. Vila Isabel, 1988. Centenário da Lei Áurea, uma escola inteira, africana como nunca se viu, nem antes nem depois. E eu, que sempre apagava depois da terceira ou quarta escola, perdi o sono de tão desnorteado e virei a noite vendo as escolas que vieram depois "cumprindo tabela" na avenida.

Valeu Zumbi! O grito forte dos Palmares...


Aí os anos 80 acabaram, Carlos Imperial se foi, a apuração nunca mais seria a mesma sem o seu indefectível "Dez, Nota Dez!!, a Viradouro atravessou a ponte, a Grande Rio se tornou a escola preferida dos globais etc etc


Com a chegada dos nos anos 90, de triste memória para tantas e tantas e tantas ramificações da cultura deste pobre planeta, veio o domínio dos desfiles técnicos, perfeccionistas, obras da ciência tanto quanto da arte. Começava a era dos carnavais "nota dez de ponta a ponta" da Imperatriz Leopoldinense de Rosa Magalhães. Após alguns vice campeonatos, a Beija Flor abriu mão do legado de Joasinho Trinta - inovador e vitorioso nos anos 70 - e passou também a desfilar de modo tecnicamente perfeito rios e rios de branco e prateado pela Sapucaí, colecionando títulos na primeira década do século XXI.

Para saber mais sobre os grandes de cada década - Fernando Pamplona, Joasinho Trinta, Fernando Pinto, Rosa Magalhães, Alexandre Lousada leia o breve artigo Escolas de samba, décadas de estilos e mudanças, de Jaime Cezario.

Anos e anos de estética perfecionista não me geravam nenhum interesse em acompanhar os desfiles. Nos anos 90, já sabíamos antes de começar o carnaval que a Imperatriz seria campeã, a Beija Flor seria vice e o Salgueiro ganharia o Estandarte de Ouro do jornal O Globo. No novo século, os vices variavam. E uma daquelas escolas "gangorra" que subiam e desciam do grupo especial beliscou dois vice-campeonatos: a Unidos da Tijuca.

Nessa época eu já não via mais desfile, imagina. Mas acho que a Tijuca deve ter sido uma das primeiras a desfilar, pois me lembro de passar na fretne da TV em algum momento e me deparar com o hoje histórico "carro do DNA", em que dezenas de homenzinhos azuis se remexiam.

(Pulem logo pro momento 5:33, que é o que interessa)


Lógico que achei aquilo muito diferente. Sensação parecida de quando as comissões de frente deixaram de ser a Velha Guarda da escola, e passaram a ser coreografadas, se não me engano com a Intrépida Trupe na Mocidade de Renato Lage, nos anos 90. Fui procurar depois, e fiquei sabendo que a Tijuca estava com um carnavalesco estreante, o tal Paulo Barros.

(Poxa, o cara tava já há 10 anos ralando no grupo de acesso, mas enfim, estava estreando no grupo especial.)

Em 2007, o cara foi pra Viradouro, uma escola maior, pra ganhar campeonato. E enfiou a bateria dentro de um carro alegórico, exigindo malabarismos na hora de entrar e sair do recuo na avenida.

Criou uma fama de "criativo demais", inconsequente até. Fernando Pamplona o elogia e detona ao mesmo tempo nesta entrevista de 2007.

Demitido da Viradouro, passou pela Renascer de Jacarepaguá (a escola de samba, não a igreja) e pela Vila Isabel antes de voltar à Unidos da Tijuca e ser campeão em 2010. A página da eterna revelação foi virada. Mas ele se tornará um vencedor como o Joasinho Trinta dos anos 70? Ou voltará a ser "incompreendido" como foi Fernando Pinto nos anos 80, com o seu solitário título de 1985?

E quanto ao Carnaval? Ou melhor, e quanto ao espetáculo cenografico que chamamos desfile de escola de samba? Acho que foi virada uma página também.

A criatividade foi premiada, isso é uma boa notícia.

Os carros alegóricos e fantasias da Tijuca, apesar de "criativas", são compreensíveis!!! Não é preciso esperar o pseudo-comentarista da TV ler o release para explicar afinal o que aquele carro cheio de penas e brilhos e mulheres e resplendores pretende representar.

Isso me parece também uma boa notícia.

Voltou-se a falar da importância do carnavalesco enquanto artista e gênio. Isso pode ser uma boa notícia em relação ao padrão impessoal e sem personalidade da "comissão de carnavalescos" que vinha sendo adotado crescentemente no últimos anos. Mas pode ser uma péssima notícia se continuarmos falando muito do carnavalesco e nada ou quase nada da Escola.

Correndo o risco de falar uma grande bobagem, vejo o Paulo Barros como um cara que traz a linguagem do cinema e efeitos especiais pra avenida, distinto da geração que dominou os últimos anos, mais afeita, sei lá, às belas artes. Mais próximo do Fernando Pinto de Ziriguidim 2001 do que da Imperatriz dos anos 90, portanto. Esse é um dos motivos por que me animei a escrever este post sobre escola de samba, sendo total e assumidamente doente do pé, com orgulho.

Outra razão é que, se a moda pegar, talvez volte a ser legal assistir os desfiles e esperar que surpresas trará a próxima escola, o próximo carro, a próxima ala. Enquanto entretenimento e cultura pop globalizada, o céu é o limite.

Claro, tem muita gente preocupada. Mas e o Carnaval? E o samba no pé?

(Sejamos francos né turma? Pra resolver isso só com máquina do tempo.)

Ouçam - e degustem - esse samba de 1977, por exemplo. Ultimo ano do desfile na Presidente Vargas.

Domingo - União da Ilha, 1977.



Para saber a terceira razão, vc terá que ver o compacto do desfile da Unidos da Tijuca 2010 até o final.



Realmente genial né?

Axé!


PS: Sim, ele já usou o Batman em desfiles anteriores. Deve gostar de gibis, esse Paulo Barros.

PPS: Sim, já usou esquiadores também.

PPPS: É ou não é as-sus-ta-dor o acervo que está no You Tube?

PPPPS: Está provado: com o Google, qualquer um pode escrever sobre qualquer assunto!!!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Uma história que já começa espetacular

Estou mais uma vez tentando voltar ao show biz. Desta vez, o projeto vai sim sair do chão. Aguardem. Mas não, este post não é sobre minha nova banda formada por velhos conhecidos. É sobre mais um milagre da web 2.0. Ou do bom e velho rock´n roll. Ou de tudo isso junto, sei lá.

No último ensaio, o Pablo - um dos nossos guitarristas - veio contando que foi ver o novo filme do Jim Carrey - Sim, Senhor! - e que tinha uma cena dele numa moto com um rockão de primeiríssima no fundo, e que a gente tem que tocar essa música. Beleza, vamos lá, descobre a banda aê que a gente toca.

No dia seguinte, Pablo me liga: - Zé, é de uma tal de Journey.

Massa! Deve ser a "Separate Ways", ou a "Dont Stop Believing", pensei. O Journey é um daqueles grupos de hard rock pós-progressivo do início dos anos 80 - aquele tipo de rock que tocava nas propagandas de cigarro Hollywood -, gênero que sumiu do mercado quando o pessoal do glam rock - aqui no Brasil, "rock farofa" - dominou as paradas.

Vasculhei o meu acervo, mandei pro Pablo, que confimou: É a Separate Ways.

Fiquei emocionado.

Quanto tinha meus seis ou sete anos, ganhei um LP chamado "Flipper Hits II", que embora tivesse aquele formato de coletanea pop comum no início dos 80, e que lideravam as discotecas da gurizada ao lado dos "discos de música de novela", tinha clássicos inesquecíveis e indiscutíveis, como "Rock the Casbah", do Clash, "Africa", do Toto, e a baba "Up Where We Belong", do Joe Cocker. Claro que na época eu não sabia de nada disso, botava o LP na vitrola e mandava ver altão, até a mãe mandar baixar.

É crianças, se vocês não sabem o que significa "botar o LP na Vitrola", perguntem aos seus pais. Ou avós.

"Separate Ways" era umas faixas que eu mais ouvia, ao lado de "Rock the Casbah" e "Domo Arigato Mr Roboto" - que eu não lembro agora de quem é. Depois eu olho no you tube.

Então, tocar essa música com meus próprios dedos e cordas seria uma experiência freudiana muito doida.

Aí fui no YouTube procurar os vídeos. Achei o clipe original - que é um monumento à sensacional tosquice dos anos 80:

Não consigo trazer o link do clipe original pra cá. Para ver o original, clique aqui.

Repara só nos caras "tocando instrumentos invisíveis"!! Fazendo pose de bandinha de desenho Hanna Barbera!! Fazendo cara-de-mau à la Village People!! Enfim, uma verdadeira enciclopédia de clichês dos tempos heróicos da pré-história do VideoClipe. Uma época em que os caras não se maquiavam nem escolhiam figurino, e o diretor era apenas aquele amigo gente fina da banda.

(Depois vieram Michael Jackson, John Landis, Thriller, e tudo mudou.)

Enfim, o clipe é tão clássico mas tão clássico que tem dúzias de remakes "homenageando" o clipe na web. Este é apenas um deles. Um dos melhores na minha humilde opinião.



Depois fui procurar um vídeo desta música ao vivo, sempre é legal pra ter mais idéias pro arranjo cover - solos diferentes do disco, viradas de batera, essas coisas.

Encontrei este vídeo:



Fiquei confuso. Uma mega show no Chile?

Em 2008?

Pôxa, os caras voltaram? Ou nunca pararam? E tão com tudo em cima?

E quem é esse japinha com nome de latino que tá nos vocais?

...

Olhei o vídeo de novo e reconheci os outros componentes da formação original da banda. Pensei, legal, os velhinhos resolveram montar um mega retorno! Chamaram um guri pros vocais, botaram música no filme do Jim Carrey, devem estar dando entrevista na Oprah e no Letterman, essas coisas. E olha o pique dos caras em torno do japinha/peruano/seilá - rejuvenescidos, mais um milagre do rock´n roll.

Mas a história é ainda mais legal.


Olhem o que aprendi hoje na Wikipedia.

Arnel Pineda não é japonês nem peruano. É filipino. E não é nenhum guri, tem pouco mais de 40 anos, três filhos, o mais velho já com seus dezoito. Ainda em 1988, sua banda - chamada AMO - venceu a etapa filipina do festival asiático Yamaha Explosion - que imagino ser um FestValda gigantesco -, com um cover de Bohemian Rhapsody. A AMO se apresentou na final em Hong Kong, mas não disputou o prêmio pois defendia um cover.

(Não sabem o que é o FestValda? Crianças, perguntem ao seu tio caçula!)

A banda de Pineda seguiu na cena de Manila, disputou outras edições do festival Yamaha, mudou de nome e de formação. Emn 1991, foram todos tocar em Hong Kong. Em 1994, o cara quase perdeu a voz por conta de problemas de saúde, e parou por um tempo. Em 1998, estava de novo na noite de Hong Kong, e em 1999, gravou um disco solo pela Warner - que fez um ou dois hits no Oriente, sucessos até hoje nos karaokês da vida por lá.

Aí, começa o fim da história. Ou como diria George Lucas, "uma nova esperança".

Em 2006, Arnel Pineda voltou ao show biz filipino, para integrar uma banda chamada ZOO, que já nasceu grande, produzida por um figurão da TV local. A banda se tornou habitué de grandes casas de show de Manila, como o Hard Rock Café Manila, onde cantavam músicas próprias e muitos covers, em shows com mais de três horas de duração. Contratada pela MCA, a ZOO lançou seu primeiro disco, Zoology - criativo, não? - que engrenou dois hits por lá.

Com o sucesso e o reconhecimento na noite de Manila, fãs começaram a gravar e postar performances da ZOO no YouTube. Covers do pop rock dos anos 80 e início dos 90. Guns, Aerosmith, Toto, Survivor, Heart, Van Halen, Asia...

E foi no YouTube que os caras do Journey, do outro lado do Pacífico, assistiram aquele cara cantando as suas músicas.


Dont Stop Believing.


Separate Ways.

E não acreditaram no que viram. E ligaram pra ele.

E o chamaram pra banda.

E gravaram um novo disco com os seus velhos sucessos interpretados por um novo vocalista.

E estão "on tour" pelo mundo.

E tocaram no Super Bowl.

E estão compondo músicas inéditas, e regravarão músicas de Pineda já conhecidas na Ásia, mas ainda inéditas na América.



Entrevista na CNN


Um milagre da web 2.0.

Mais uma prova que essa joça, ainda que mal usada na maior parte do tempo, é de fato um ferramenta de democratização de informação, talentos e oportunidades. Mais um passo na história dessa humanidade que não pára de se globalizar e de acelerar sua comunicação, desde que chineses inventaram o papel, e os povos da Rota da Seda inventaram o comércio internacional.

Logicamente, como tudo o mais que acontece hoje em dia, há um debate furioso nas caixas de comentários ao redor do planeta. "Esse cara não é de nada", "Não está ao pés de Steve Perry", "O Journey fez uma péssima escolha". Enquanto outros louvam Pineda e metem o malho em Perry, chamando-o de velhote, acabado e coisa e tal. Claro que é desnecessário ficar discutindo quem é melhor, se o vocalista original da Journey ou novo que vem das Filipinas. Mas a turma gosta é de bater boca. Gregos e troianos, tucanos e petralhas, bernardinhos e zés robertos, Lost´s e Heroes´, tanto faz.

O que importa é que a web aprontou mais uma. O rock´n roll agradece.

Esta história já começa espetacular.

E desejo boa sorte também aos caras da ZOO, e ao novo vocalista que assumiu o posto de Pineda.



Aí está a nova formação da ZOO cantando "Africa", do TOTO. Que aliás, era a segunda faixa do lado A do LP Flipper Hits II, logo depois de "Separate Ways".

Axé!

PS: Ah, ia me esquecendo. O tal megashow no Chile -postado lá em cima - foi a estréia de Pineda no Journey. Que pressão, hein?

domingo, 8 de junho de 2008

A Luta Continua, Companheiro!!

A luta pela cidadania de Plutão, uma bandeira antiga deste Meta-Blog, fortaleceu-se recentemente, com a publicação do artigo "The planet debate continues", de Mark Sykes, publicado na edição de março da Science. E, como noticia a Revista da Fapesp:

"O assunto promete esquentar ainda mais nos próximos meses. Em agosto, uma reunião que contará com a presença de astrônomos, professores e até mesmo de estudantes, será realizada na Universidade Johns Hopkins.

Intitulado “The Great Planet Debate: Science as Process”, o encontro pretende discutir a decisão da União Astronômica Universal e, eventualmente, sugerir nova definição de planeta a ser apresentada em futura reunião da entidade. Enquanto isso, Plutão continua sendo apenas um anão, apesar dos protestos de cientistas e estudantes. "


O artigo do Prof. Sykes, diretor do Instituto de Ciência Planetária dos EUA, está acessível apenas para assinantes. Mas um artigo na Scientific American de abril resume toda a discussão com qualidade e precisão. No mínimo dois pontos merecem ser destacados:

(i) essa discussão toda não é inócua ou excêntrica. A nova definição de planeta decidida na UAI, que derrubou o status de Plutão, veio substituir um antigo conceito que, se mantido, incorporaria outros corpos celestes, elevando o número de planetas do nosso Sistema Solar para 12. Um número que tende a crescer, à medida que se estude mais a periferia do nosso Sol. Uma definição mais abrangente de planeta pode ser um complicador também para aqueles que pesquisam outros sistemas de outras estrelas, os exo-planetas: sem uma limitação mais estreita, o número de corpos celestes assim classificáveis pode ser incontável. Quer dizer, em se tratando de Astronomia seria incontável de qualquer jeito, ou não? E tudo isso tem muito a ver com quais projetos e pesquisadores receberão mais verbas para pesquisa, of course.

(ii) uma decisão científica "votada" numa Conferência é um duro golpe nas Ciências que se pretendem puras ou exatas ou algo assim. Ou se tem um paradigma hegemônico, que se consolida por meio do debate e do convencimento entre os pares - e, vá lá, do método científico rigoroso - ou, então, que diferença faz? Há diversas teorias para um mesmo fenômeno, junta-se os lobbies e as bancadas de cada uma e vota-se?

De minha parte, estou nessa luta porque continuo achando que a decisão de rebaixar Plutão é xenofóbica e preconceituosa, "... motivada pelo medo do DIFERENTE - sua órbita não se encaixa nos padrões; pelo medo do que está na PERIFERIA; e pelo desprezo aos MENORES e aos CARENTES - Plutão não tem posses, digo satélites. O ocorrido se torna ainda mais revoltante porque por meio dele fecham-se também as possibilidades de INCLUSÃO soberana e cidadã de outros corpos celestes, como Xena e Caronte."


E nós brasileiros seremos fundamentais na resolução desta peleja! A próxima Conferência da União Astronômica Internacional (UAI, em português, IAU, em inglês, escolha à vontade) será no Rio de Janeiro, em agosto do ano que vem. A sociedade organizada, a voz rouca das ruas, todos estaremos lá para pressionar esses cientistas.

E que o próximo prefeito do Rio de Janeiro perceba a oportunidade histórica de dar show na organização desse evento como mais um passo rumo à Olímpiada!! Os holofotes estarão todos no Rio!!!

Axé.

A Rainha do Soul

Outro dia, num domingão de manhã - quer dizer, à tarde, porque o domigão pra mim começa meio-dia - fui rever o filme Irmãos Cara-de-Pau (The Blues Brothers). Um clássico, sensacional, John Belushi e Dan Ackroyd ótimos como sempre, e cenas memoráveis com James Brown, Ray Charles, John Lee Hooker, Aretha Franklin e por aí vai. E tem também a cena final, com a irrefutável MAIOR - é, MAIOR mesmo - cena de perseguição de carros de todos os tempos. Que continua na perseguiçao no prédio da Prefeitura - não achei no Youtube, mas está lá no final do trailer. Velozes e Furiosos, mordam-se de inveja.

Fui no YouTube depois do filme, fuçar vídeos desses gênios. E encontrei esta iluminada performance da jovem Aretha Franklin. Jovem, mas já plena em sua majestade.



Não há o que escrever ou comentar.

Apenas.
Arrepiem-se.

Axé.

O Funk do Ariano Suassuna

O sensacional Ariano Suassuna dispensa apresentações. Confesso que mais do que sua obra, ou seu vigor intelectual, o que mais me cativa no Ariano é o seu olhar irrequieto, meio de adolescente em pleno processo de descoberta contínua do mundo por aí. Quer dizer, não tem aquela empáfia de quem "já vi tudo isso antes", etc e tal.


Este vídeo, talvez vocês já tenham visto, mas é simplesmente hilário. Os DJs Rafael Mendes e Jacaré Banguela nos trazem mais uma prova irrefutável de que o pancadão do funk carioca torna dançante qualquer coisa, bula de remédio, obituário etc. Se bem que as palestras/entrevistas do Suassuna já são animadas por natureza. E ainda tem as famosas "aulas-espetáculo".

"Caros Amigos - Em meio a um bombardeio de informações, o que leva os estudantes a lotarem as suas aulas-espetáculo?
É porque eu falo a verdade. E eles sabem que não estou mentindo. Eles podem até discordar, mas sabem que aquilo é aquilo. Acho que a primeira coisa que faz os estudantes não terem raiva de mim é isso. Eles já estão cansados de ver velho mentindo."



"em redor do buraco tudo é beira!!!"

Axé

sábado, 5 de janeiro de 2008

Heróis Mirins, Vigilantes, Vampiros...

Não sei se vou dar conta de ser claro no que vou escrever agora. Até porque é provável que eu mude de idéia umas três vezes até o final do post. Mas estou preocupado com umas coisas.

Quem acompanha as revistas em quadrinhos sabe que está rolando um quebra-pau generalizado em torno da Lei de Registro de Heróis - a série conhecida por Guerra Civil. A briga consiste mais ou menos no seguinte: depois de algumas "pisadas na bola" dos heróis - gravíssimas, com centenas de mortos -, a opinião pública e o governo resolveram não tolerar mais os "efeitos colaterais" dos confrontos super-heróicos, como ruas, prédios e, às vezes, cidades destruídas. Algumas premissas são contundentes.

A maioria do Super-Heróis são pessoas que se consideram agentes da lei, mas não tem treinamento nenhum, não tem legitimidade junto ao Estado, e tem um poder de fogo desproporcional. Em suma, são uma afronta ao princípio de que só o Estado tem o poder de resolver conflitos pelo uso da força - no caso, a Polícia, o Exército etc. - e ao Poder Judiciário constítuido.

Esta questão está implícita há décadas nos gibis. O Homem-Aranha não é querido pela polícia, e sempre tem que fugir quando entrega algum bandido embrulhado em teia para os homens da lei. O Batman tem uma relação informal com o Comissário Gordon altamente discutível - você gostaria que o seu delegado de polícia tivesse um "telefone vermelho" com o Juvenal Antena? E a polícia de Gotham nunca gostou dessa história - assim que Gordon se aposentou, o novo Comissário mandou quebrar o BatSinal. O Professor Xavier acolhe, entre seus X-Men, vários foragidos da justiça - Wolverine, Vampira, Gambit, Juggernaut, Mística, até o Magneto de vez em quando faz as pazes e passa um tempo na Mansão. Basta pedir desculpas, jurar que estão arrependidos e regenerados - jurar ao Xavier, não à Justiça - e tudo bem. Ah, espancar e torturar informantes também é modus operandi frequente para Batman, Demolidor, Arqueiro Verde, Asa Noturna, sem falar no "uso excessivo da força" que o Wolverine faz em toda e qualquer luta. Claro, tem o SuperHomem que é adorado, assim como o Capitão América. Cada caso era um caso, até ontem. Agora o bicho pegou geral.

(Nos chamados "Quadrinhos para Adultos", essa questão já é desenvolvida há tempos, principalmente pelo escritor Alan Moore. A mais crua e objetiva, escrita no anos 80, coloca essa "enquadrada" dos heróis pelo Governo na mesma época do McCarthismo. "Watchmen" parte de um singela pergunta; "Who watches the Watchmen?" - "Quem vigia os Heróis?"

Outra premissa bastante séria é o lance das máscaras - ou das "identidades secretas", se preferirem. Os heróis, com razão, alegam que a máscara serve para proteger os parentes e amigos frágeis e sem poderes. A Tia May e a Mary Jane; Papai e Mamãe Kent; Alfred etc. Não deixam de ter razão. Oito entre dez namoradas do Demolidor já morreram, porque o advogado cego não é lá muito cuidadoso com sua identidade secreta. Esperto mesmo foi o cara dos Quatro Fantásticos, que arrumou poderes para a família toda - menos um problema pra se preocupar. E tem os que desistiram de uma vida particular, e são heróis em tempo integral - como o Capitão América, o Justiceiro, a Mulher Maravilha, e como o Batman seria se não precisasse do dinheiro do Bruce Wayne.

Mas... Policiais, juízes, promotores, politicos, ativistas verdes, militantes de todo tipo - não usam máscaras. Suas famílias correm os tais riscos o tempo todo. É perigoso, sim. Mas a solução seria dar máscaras pra todo mundo? Se Martin Luther King usasse máscara, talvez ele não tivesse sido morto - mas talvez a sua luta pelos Direitos Civis não tivesse ido tão longe.

Isso tudo significa que eu sou a favor da Lei do Registro no mundo do gibis? Não, mas por outras razões - fica prum outro post. Mas as premissas da Lei de Registro são muito legítimas. A implementação dela é que é, talvez, pior do que o soneto. Lembra um pouco a "Guerra contra o Terror", com direito até a uma prisão para heróis anti-registro no estilo Guantanamo e ao uso "seletivo" da Constituição. No nosso mundo real, tudo isso seria uma coisa muito complicada pra se pensar, de fato.

E então, finalmente, chegamos ao objetivo deste post, que é discutir a terceira premissa relevante da Lei do Registro: o que fazer com os jovens e crianças "super-heróicas"? De um lado, alguém tem que dar-lhes treinamento. De outro, cada herói mirim que surge é uma mensagem complicada a outros jovens. O Robin foi treinado por um dos melhores, já o Homem-Aranha aprendeu da pior maneira - com pessoas queridas morrendo à sua volta, e não estou falando só do Tio Ben. Mas, nos gibis, o tempo todo aparecem pré-adolescentes que, ao descobrirem seus poderes, vestem uma capa e saem por aí "salvando o mundo". Isso é perigoso, para eles e para o mundo.

Recentemente, tivemos dois guris - no mundo REAL - que resolveram bancar o Homem-Aranha e salvar vidas. Um garoto de cinco anos entrou num incêndio e salvou um bebê, semanas atrás. Agora, um garoto de quatro anos salvou a irmã de um ano de idade que caíra na piscina. Ambos estavam influenciados pelo heroísmo do Homem-Aranha, o preferido das criancinhas, ainda mais depois dos filmes. Todo mundo achou lindo, sensacional, jovens heróicos etc e tal. Ninguém deu atenção ao bombeiro falando que o guri não devia ter feito isso, que ele podia ter morrido no incêndio.

De vez em quando, alguma turma de psicopatas comete um crime, e usam como "desculpa" ou "álibi" o fato de que os caras eram "fãs de heavy metal" ou "jogadores de RPG". Há pouco tempo mesmo, apareceu no interior de São Paulo um "vampiro". Acho que demos muita, mas muita sorte mesmo, dos meninos-aranha não terem se machucado ou coisa pior. E acho que isso deveria ser ressaltado. Eles não ponderaram os riscos. Não avaliaram os prós e contras, ou qual o melhor caminho a percorrer, como um bombeiro ou mesmo um adulto comum sem treinamento faria. Eles simplesmente se arriscaram.

(Bem, o menino-aranha da piscina foi até esperto, ele não pulou na piscina sumariamente, ele se pendurou na borda, se esticou e pegou a irmã.)

NÃO acho que videogames violentos criem uma geração de pessoas violentas ou criminosas. NÃO acho que RPGs e livros tipo Senhor dos Anéis e Conan o Bárbaro nos atirem nos braços da magia negra. NÃO acho que Marilyn Mansion e Ozzy Osbourne mereçam ser processados quando algum adolescente se suicida - depois de matar coleguinhas na escola ou não. O que eu acho é que pessoas que confundem fantasia com realidade, vida e morte com "pontos" e "continues", precisam de acompanhamento, antes que aconteça o pior.

O parágrafo anterior se aplica a adultos e adolescentes, com certeza. Talvez a pré-adolescentes também. Mas essa minha opinião não se estende a criancinhas de três ou quatro anos. Nessa idade, a realidade está sendo construída, e construída pela experiência na maior parte do tempo. As criancinhas vão, sim, amarrar um pano vermelho no pescoço e pular do alto da estante, pensando ser o SuperHomem. Vão querer brincar com as armas dos pais, se elas as acharem. Podem matar acidentalmente um coleguinha, se quiserem fazer a "brincadeira do plástico" do Capitão Nascimento.

Ah, então você quer censurar tudo isso? Proibir as crianças de ver os filmes, de ler os mesmos gibis que você lia etc etc? NÃO. Só quero estressar um ponto fundamental que passou despercebido nisso tudo. Crianças de 3 ou 4 anos são absolutamente frágeis.

Será possível que não havia uma única pessoa por perto para impedir que um guri de cinco anos entrasse num incêndio?

...

Sem dúvida, é muito legal que os bons ideais e princípios dos heróis dos gibis estejam sendo absorvidos pelas criancinhas. Por outro lado, me assusto quando esses ideais são encarados ao pé-da-letra. O Homem-Aranha pertence ao inacreditável, ao sobrenatural, nós não temos poderes. Ser honesto, sensível e íntegro, como o Peter Parker, sim, é possível - mas sem aquela franja Emo, por favor.

Axé.

Mais um dos "Heroes"...

Em novembro, saiu uma notícia sobre um operário que caiu de um prédio, do sétimo andar, e só quebrou um braço. E foi aqui em Brasília!! Logo ali em Águas Claras.

Uau!

Mas aí, a sequência foi meio frustante - em termos de um novo super herói na praça, claro: O camarada ter sobrevivido continua sendo sensacional !! -, mas é que ele caiu na piscina do prédio vizinho.

Uau!

(Bem que eu achava que os prédios lá em Aguas Claras eram meio "perto" um do outro. Já pensou? Você fica naquele lance "voyeur" com a vizinha gata do prédio em frente, aí se ela der um tchauzinho pra ti é só pular da sua janela na varanda dela. Mas isso já é outra história.)

Mas a manchete hoje é que um equatoriano, peão de obra em NY, caiu de um andaime a 47 andares - é, 47 andares - e sem piscina. Se quebrou todo, mas sobreviveu e vai sair AN-DAN-DO do hospital em poucas semanas.

Isso sim merece um UAAAAU !!

A dúvida que resta é:
(i) o cara tem poderes de resistência ou fator de cura;
(ii) o cara voa mas não sabe aterrisar - ainda;
(iii) o bombeiro que o socorreu tem poderes de cura ou ressuscitamento;
(iv) não tinha piscina, mas ele conseguiu mergulhar num copo d´água, igual naqueles desenhos do Pica-Pau - ou do patolino, não sei...

Axé!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Celebridades, Artistas e Roqueiros

Pois é, ladies and gentlemen, eu estava lá no Maraca, neste sábado histórico, vendo o show dos velhinhos e corrigindo uma injustiça histórica: tinha apenas sete anos no primeiro show dos caras no Brasil, então...não fui, né?

Tudo bem, eu tava na fase "Arca de Noé" nessa época, então não fiquei chateado. Anos depois é que bateu aquela nostalgia violenta de "não-ter-estado-nos-lugares", simplesmente por "ter-nascido-na-década-errada". Pois é: o Circo Voador no Arpoador e no Morro da Urca, o Rock in Rio, a Fluminense FM, não curti nada disso ao vivo, mas apenas retrospectivamente.

Depois escrevo sobre o show, e sobre os problemas - sérios - de organização. Mas queria compartilhar com vocês um pequeno mas valioso detalhe.

Eu não faço a menor idéia de como foi o show no camarote da Brahma - digo, área vip da Sol - mas parece que estavam por lá a Miss Aécio, a Cicarelli, o Santoro e a Ellen...além de vários paparazzo credenciados - o que deveria ser uma contradição em termos, mas como este é um país peculiar...Parece até o Luciano Huck, coitado, se estranhou com uma fotógrafa. Imaginem, ele queria ver o show!!

Bem, maiores detalhes sobre o camarote da Brahma na próxima edição da Caras, ou no programa do Pânico.

Eu estava lá no gramado, com minha esposa. Rolou um pequeno empurra-empurra na entrada, mas nada muito fora do normal - graças exclusivamente ao bom humor e educação do público. O som estava sensacional - sério, nunca vi nada igual num show desse tamanho. Ao nosso lado, de camiseta preta rock´n roll e boné, os ainda-mais-belos-ao-vivo Júlia Lemmertz e Alexandre Borges. Apesar de estar escondida debaixo do boné e de absolutamente zero maquiagem, Júlia é maravilhosa e pronto. E o Alexandre, à caráter, com uma camiseta onde se lia "Elvis the Pelvis! Live in Memphis".

O carioca, seja por soberba, seja por educação, se relaciona de uma forma extremamente "casual" com seus artistas. Ninguém fica perturbando a Camila Pitanga correndo na praia, por exemplo - apenas aquele olhar de cobiça, básico, que qualquer morena anônima igualmente fabulosa receberia. Então, imediatamente estabeleceu-se uma certa cumplicidade naquele quadrante do gramado, sem assédios babacas, e todos curtimos o show.

(Para falar a verdade, houve uma moça que chegou neles com o seguinte comentário: "Uéé, mas eu não sabia que vocês estavam namorando!!!!")

Na hora da saída, mais empurra-empurra. Lá fora, entre os ambulantes que vendiam água e refris, vejo novamente, no canto do olho, Júlia e Alexandre, completamente cansados, suados e felizes, tirando foto com uma das tias vendedoras. A senhora fala algo do tipo, "Puxa, obrigado viu, desculpa..." e o Alexandre Borges pisca o olho, sorri charmoso como lhe é peculiar e responde "Que é isso, o prazer é meu."

Há algumas lições que podem ser aprendidas aqui, padawan gafanhoto.

(i) existem Celebridades, e existem Artistas. E existem Roqueiros!
(ii) se você quer ver o show, não vá no Camarote da Brahma. Vá no Gramado, ou desfile na Sapucaí. Você se espremerá junto com o povão - bem, com o ingresso a 190 reais, não era tãão povão assim -, mas isso é parte importante do processo!
(iii) gentileza gera gentileza, simpatia é quase amor, e elegância realmente não se compra.

Axé!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

"Eu sou um coelho, eu sou um coelho"

Uma antiga piada conta que um belo dia se reuniram no Central Park as finalistas da Copa do Mundo das Polícias - o FBI norte-americano, a Scotland Yard britânica, e a Rota na Rua tupiniquim. (É, não é o BOPE. Eu falei que a piada era antiga.) O árbitro soltava um coelho no meio do mato, e acionava o cronômetro.

O FBI usava os seus comunicadores e laptops de última geração, imagens em tempo real tiradas por satélite, enfim, hi-tech total. E achava o coelho em 8 minutos e 37 segundos.

Os experientes agentes da Scotland Yard, utilizando o método dedutivo e a lógica, estudaram o comportamento do coelho, quais os seus hábitos, como funcionaria sua psiquê. Só depois de um diagnóstico claro, foram em busca do coelho, localizando-o rapidamente. Elementar, caro leitor. Tempo total 7 minutos e 21 segundos.

Aí chegou a vez da Rota. Assim que zerou o cronômetro, as viaturas saíram Central Park adentro, com as sirenes a todo volume e as escopetas pro lado de fora da janela. Em simplesmente fantásticos 1 minuto e 43 segundos, a Rota estava de volta.
"Unbelievable!!" "Amazing!!" eram os comentários ouvidos por todo lado. O árbitro chegou perto da viatura, para pegar o coelho e consagrar a polícia brasileira naquela sensacional vitória. Quando abriu a caçamba, tava lá dentro um porco-espinho todo quebrado, desesperado, gritando:

"Tá bom, tá bom, eu sou um coelho, eu sou um coelho!"

...

Parece que o intercâmbio metodológico deu frutos.

Notícia do Portal G1:

Exame achou traços de cocaína em Jean Charles, diz jornal
"Exames toxicológicos reveleram os resquícios da droga em sua urina, mas não no sangue. Julgamento começou no dia 1º de outubro.

Traços de cocaína foram encontrados na urina do brasileiro Jean Charles de Menezes após ele ser morto por policiais ingleses numa estação de metrô de Londres, segundo uma testemunha ouvida nesta terça-feira (16) no julgamento da Scotland de Yard pelo caso, revelou o jornal britânico “The Guardian”. Exames toxicológicos realizados após a morte de Jean Charles revelaram os resquícios da droga em sua urina, mas nada foi encontrado em seu sangue.
"

Essa história fica cada vez feia na foto. E não tem graça nenhuma.

Deus nos Proteja.

Axé.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Nonsense de volta à velha forma!!

O Blog Nonsense, de Luiz Antonio Ryff, está simplesmente imperdível. Russos praticando tiro ao alvo em pedestres inocentes, strippers ovulando, divórcio das árabias, e outras coisas desse nosso mundo cão. Pra rebater, a lista dos 40 aliens mais famosos de todos os tempos.

Axé!

domingo, 14 de outubro de 2007

Paul McCartney, Baixistas, Guitarristas Frustrados e um Momento Gafanhoto

É engraçado. Me acho razoavelmente imune às manchetes bombásticas da imprensa, que às vezes até escondem matérias interessantes e dignas abaixo de si. Mas, aprendi hoje que, se de fato tenho esse preparo, ele se restringe ao campo da política, economia e coisas do gênero. Sim, porque eu fui atraído como um urso ferido a esta reportagem sobre o velho Paul, no portal Globo.com:

Paul McCartney: o lendário baixista queria ter tocado guitarra nos Beatles“Fiquei insatisfeito quando peguei o trabalho”, diz em entrevista a Pete Doherty

Ao ler o conteúdo, me acalmei, e compreendi o que Macca quis dizer. Era o momento de decolagem dos Beatles, ele - como todo jovem músico - queria ser o "band-leader", e esse é um cargo reservado aos vocalistas e aos guitarristas, ainda hoje. Ok, depois dos Beatles houve exceções importantes, como o Police, o Rush, o Pink Floyd, o Iron Maiden etc., mas a regra geral quando se monta uma banda adolescente é: o cara mais pintoso vai pro vocal; o melhor tocador de violão, que consegue tirar uns solos, vai pra guitarra; o que toca menos violão, pro baixo; e o cara que não sabe tocar nada, mas é o mais animado da turma, vai pra bateria - principalmente se ele tem uma família cuca-fresca que deixa a banda ensaiar na garagem.

Talvez por isso a imensa maioria dos baixistas amadores que andam por aí sejam apenas guitarristas frustrados. E talvez seja por isso também que um baixista amador, mas puro-sangue, nunca fique sem emprego.

Mas voltemos ao Paul. No caso dele, havia agravantes. Tinha toda a história do Stu como baixista da banda; e o carisma de Lennon o tornava candidato natural ao posto de "band-leader".

Eu comecei a tocar violão por pura inveja de um colega do segundo grau - como diz o filósofo Roger Rocha Moreira, "não fosse por mulher eu nem era roqueiro". Mas a primeira banda, e tudo o mais que eu cresci como gente a partir daí, eu devo a um cara sensacional que já não está entre nós - e que Deus o tenha no melhor lugar, no Valhalla do Rock´n Roll, que imagino deve ser algo parecido com um Woodstock sem lama e na beira da praia.

Bom, éramos 3 ou 4 guris de 15 anos tocando violão na calçada de esquina. E tínhamos um vizinho trintão, recém-chegado no bairro, que tinha uma banda. E aí um belo dia o Zeca chegou pra nós e chamou a gente pra assistir um ensaio. E veio a oferta irrecusável:

"Ó, galera, domingo que vem a gente faz assim: a gente monta o equipamento de manhã, vocês ensaiam aí enquanto a minha galera não chega, que tal?"

Imaginem a euforia e ansiedade da gurizada. E agora, quem canta, quem toca o quê? Aí rolou um Momento Gafanhoto. O Zeca chegou pra mim e falou algo assim:

"Você vai pegar o baixo. Os outros meninos revezam na guitarra base e nos solos, mas o baixo é o mais díficil, tem que ter noção de ritmo, conversar com a bateria. Você já passou da fase de tirar só o Legião, tu já toca uma MPB, uma Bossa, então vc vai pro baixo."

Uma origem diferente, certo? O baixo é o coração da banda. Bandas ruins tem um "gordinho lá no fundo", com disse o Macca. Bandas que fazem a diferença tem um baixista de verdade, mesmo que não seja um "virtuose". Mas tem que ser consistente, tem que ser "honesto". Fuçem os seus discos e confiram. Mesmo "soterrado" por dois talentos da estatura de Bono e The Edge, Adam Clayton fez da linha de baixo de "New Years' Day" uma das melodias mais facilmente reconhecidas do U2.

No fim das contas, Paul tinha lá suas razões pra ficar chateado. Ok. Mas os Beatles certamente ganharam muito quando entregaram o baixo ao melhor músico dentre os quatro gênios que eram.

Axé!

sábado, 6 de outubro de 2007

Prelúdios do Meta-Blog do Z.E.H. - parte II

Um segundo momento importante como antecedente do Meta-Blog do Z.E.H foi a indignação com que recebi esta notícia:

Plutão perde status de planeta

A decisão da União Astronômica Internacional surpreendeu a todos - até porque havia a aparente tendência de elevar, e não restringir, o número de planetas do Sistema Solar. Seriam incluídos Xena - um planetinha além de Plutão -, Caronte - que já não era considerado uma "lua" de Plutão -, e Ceres - o maior dos asteróides do Cinturão. Mas aí, na hora de ponderar os critérios que definiriam o conceito de "planeta", surgiu a idéia de "dominância orbital" - e aí dançaram não só os candidatos a planeta, mas sobrou também pro Plutão.

Instantaneamente lancei entre meus colegas o movimento "Cidadania para Plutão", por meio de uma comunidade do Orkut. Tá lá:

"Em uma decisão claramente discriminatória, a comunidade científica internacional rebaixou o status de Plutão, que perdeu sua cidadania planetária.
Tal atitude é motivada pelo medo do DIFERENTE - sua órbita não se encaixa nos padrões; pelo medo do que está na PERIFERIA; e pelo desprezo aos MENORES e aos CARENTES - Plutão não tem posses, digo satélites.
O ocorrido se torna ainda mais revoltante porque por meio dele fecham-se também as possibilidades de INCLUSÃO soberana e cidadã de outros corpos celestes, como Xena e Caronte.
Esta comunidade pretende ser um escoadouro para manifestações de repúdio a esta decisão xenofóbica e preconceituosa, bem como de discussão das suas consequências nefastas para a Humanidade: p.ex., o que acontecerá com os milhões de pessoas que ficarão sem rumo, com seus mapas astrais tornados obsoletos de maneira repentina e arbitrária?
"

O movimento não "pegou". Na verdade, durou apenas até o répi-áuer seguinte, onde o debate sobre a questão foi intenso. Afinal, que interesses estavam por trás de tudo isso. Mais ou menos à uma da manhã, o grande filósofo paulistano Franco definiu a peleja:

"- Isso tem tudo a ver com a Doutrina Bush !!!
- Mas como? Por quê?
- Olha só, presta atenção. A kriptonita vem de Kripton. Os caras têm medo que o Irâ faça uma bomba com Plutônio. Então!

Kriptonita = Kripton!
Plutão = Plutônio!
Eixo do Mal !

Pau nesse cara! Digo, planeta."


Um lógica brilhante e irretocável. A partir daí, nos resignamos em esperar a próxima Conferência da UAI, que será no Rio de Janeiro, para protestar em praça pública!!

Axé!

PS: Dias depois, ficamos todos entre surpreendidos e apavorados com o discurso do Senador Heráclito Fortes no You Tube, acusando o governo de desviar R$ 7 milhões para a ONG "Amigos de Plutão". Apesar da expectativa que foi gerada, não chegou nenhuma mala de dinheiro na minha sala...ainda bem!

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Viver 40 milhões de anos...sem sexo?

Tá lá no portal G1:

"Um grupo internacional de cientistas descobriu um conjunto de organismos que sobreviveu por mais de 40 milhões de anos sem relações sexuais. (...) O estudo está centrado em rotíferos deltóides, organismos microscópicos aquáticos assexuados que se multiplicam mediante ovos que são clones genéticos de sua mãe, pois não há pais."

E aí, é ou não é assustador?

Axé!!

Bush, as criancinhas e os planos de saúde

Enquanto no Brasil o Governo Lula e o Congresso se engalfinham em temas como a CPMF e a regulamentação da Emenda Constitucional n.29 - a Emenda que vincula recursos para as políticas de Saúde -, vai aqui uma notícia, do Último Segundo, pra que vocês não fiquem pensando que é só por aqui que esses temas esquentam.

Nos EUA, o Presidente Bush vetou uma lei que concederia um subsídio para que crianças de baixa renda pudessem ter um plano de saúde. É mais ou menos assim: lá nos EUA só as pessoas de baixa renda acessam o sistema público de saúde - o MEDICAID; é como se, no Brasil, as pessoas tivessem que mostrar o cartão do Bolsa Familia para ser atendidas no SUS. O problema é que tem bastante gente que não é "pobre" o suficiente pra se encaixar nos critérios do Medicaid, mas também não tem grana suficiente pra pagar um plano de saúde - uma turma em torno de 45 milhões de pessoas.

A nova Lei, aprovada no Senado americano e vetada por Bush, ampliaria os critérios de modo que crianças nem tão pobres, mas também nem tão ricas assim, pudessem ter ajuda do governo na hora de pagar o plano de saúde - o gasto extra seria financiado com maiores impostos sobre a venda de cigarros, conforme explica a BBC Brasil.

Em tempo: o novo filme de Michael Moore - aquele do "Tiros em Columbine" - ataca exatamente a politica pública de saúde dos EUA. "SOS Saúde" (Sicko, 2007) está em cartaz no Festival de Cinema do Rio. Leia aqui matéria do grande Jamari França sobre o filme.

Axé!

A visão de Mario Terán

Circulam por aí nesta semana, nas várias mídias, reportagens motivadas pelo 40º aniversário da morte de Che Guevara, no próximo dia 09 de outubro. Umas tratando-o como um sonhador revolucionário, outras como um guerrilheiro sanguinário, mas todas obrigadas a reconhecê-lo como um dos grandes ícones pop do século XX - seja lá o que isso signifique.

Mas de todas elas, chama a atenção a história de Mário Terán, publicada pela BBC Brasil. O sargento do exército boliviano que disparou o tiro fatal em Che Guevara, hoje em dia um homem idoso e cego, teve a visão recuperada numa cirurgia realizada gratuitamente por médicos cubanos - em um programa de cooperação do governo cubano que oferece tratamentos médicos em alguns países da América Latina.

Pare, e pense.

É ou não uma cena digna de um livro de Gabriel García Marquez?

Axé!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

"Heroes" em Londres

Na nossa incansável busca, mais uma suspeita surgiu - só não avisem o Mohinder ou o Sylar...
Axé!

Menina de dois anos sobrevive a queda de 30 metros

"Garota que caiu do 7º andar apenas teve a perna quebrada; descida foi 'interrompida' por andaimes
LONDRES - Uma menina de dois anos de idade sobreviveu após cair do sétimo andar de um prédio de apartamentos em Battersea, no sudoeste de Londres, informou nesta segunda-feira, 1, a BBC.
"(leia mais na BBC Brasil)

Cérebro e músculos

Kasparov é escolhido candidato da oposição à Presidência russa (leia mais no Estadão)

Lembro dos célebres duelos entre Karpov e Kasparov pelo título de maior enxadrista do mundo. Os dois, na época soviéticos, eram os maiores de suas respectivas gerações. Com o tempo, Kasparov passou a reinar absoluto, os figurinos de Raíssa Gorbachev arrassaram, o Muro de Berlim caiu, e as camisas de volêi com as letras "CCCP" se tornaram um fetiche valioso...

Mas enfim, essa matéria me fez pensar numa nova guerra fria. Arnie de um lado, Kasparov do outro, sei não...

Axé!

Quer saber mais sobre Kasparov? Que tal a Wikipedia?

Não compre, plante...

Mais uma imperdível, no portal Estadao.com.br:

Maconha é 'maior produto agrícola' dos EUA, diz acadêmico

"CALIFÓRNIA - Nem o milho nem o trigo: em valor comercial, o principal cultivo dos Estados Unidos é hoje a maconha, segundo um estudo apresentado pelo acadêmico e ativista Jon Gettman, PhD em Política Pública da George Mason University, na Virgínia do Norte, e líder da Coalizão para Reclassificação da Cannabis.

Segundo ele, a produção do cultivo de maconha no país é estimada em US$ 36 bilhões anuais e o país está deixando de ser um consumidor da droga para se converter em um importante produtor."
leia mais

A DRU e a Educação

Interessante notícia da Agência Estado:
Educação perde R$ 72 bi em 12 anos por causa da DRU

Simone Iwasso e Renata Cafardo

"Em valores corrigidos pela inflação, nos últimos 12 anos, o País deixou de investir R$ 72 bilhões no financiamento da educação pública por causa da Desvinculação das Receitas da União (DRU). O mecanismo foi criado em 1994 e permite ao governo usar da maneira como quiser até 20% do total de impostos arrecadados pela União. Apenas de 2000 a 2007, foram R$ 45,8 bilhões perdidos pelo Ministério da Educação (MEC)." leia mais

sábado, 29 de setembro de 2007

Prelúdios do Meta-Blog do Z.E.H.

Uma pergunta que creio pertinente, neste momento de transição e transfiguração deste intrépido metablog, é:

"Quando tudo começou?"

Ah, parece simples a resposta, mas não é. Tenho por hábito entupir as caixas postais dos meus amigos há tempos - sempre com informações relevantes, obviamente. Mas acho que o primeiro grande momento foi este, quando escrevi no glamuroso CarreiraSolo, ao lado do meu camarada Mauro Amaral:

Chaplin, Marx e Katilce. Quatro mil e trezentas pageviews depois.

"Hoje o efeito Katilce, um post que sozinho gerou mais de quatro mil pageviews em poucas semanas, volta como tema de uma reflexão que sugeri a um amigo de muito tempo, hoje economista lá em Brasília, trabalhando em um instituto de pesquisa governamental.

Tasquei na lata uma pergunta quase acadêmica:

A universalização da produção de informação armazenada trará que conseqüências econômicas imediatas?

Fizemos um post meio em conjunto, costuramos as idéias e estamos trazendo as conclusões aqui para vocês. Antes de mais nada, obrigado pelos links, comentários, citações e tudo mais, no já citado post. Mas vamos em frente...”


Katilce, para aqueles que não lembram, é a menina-que-subiu-no-palco-do-U2-e-deu-um-selinho-no-Bono. O nosso post trata não só da celebridade fulminante e efêmera da menina, mas também - e principalmente – da “cobertura” do show por meio de fotos e torpedos de celular, que inundou a web de madrugada, à frente dos grandes jornais e portais. O Mauro considera tal coisa revolucionária – eu digo, ok, impressionante, relevante, mas menos, menos...

Foi muito divertido. E, durante meses, “Chaplin, Marx e Katilce” liderou o meu ranking no Google, sendo mais consultado do que qualquer artigo acadêmico que eu tenha publicado. O que talvez diga algo a respeito da qualidade do meu trabalho acadêmico...

Axé!

Quer saber mais sobre o "Efeito Katilce"? Leia também os artigos do Webinsider e do Observatório da Imprensa.