sábado, 14 de fevereiro de 2009

Uma história que já começa espetacular

Estou mais uma vez tentando voltar ao show biz. Desta vez, o projeto vai sim sair do chão. Aguardem. Mas não, este post não é sobre minha nova banda formada por velhos conhecidos. É sobre mais um milagre da web 2.0. Ou do bom e velho rock´n roll. Ou de tudo isso junto, sei lá.

No último ensaio, o Pablo - um dos nossos guitarristas - veio contando que foi ver o novo filme do Jim Carrey - Sim, Senhor! - e que tinha uma cena dele numa moto com um rockão de primeiríssima no fundo, e que a gente tem que tocar essa música. Beleza, vamos lá, descobre a banda aê que a gente toca.

No dia seguinte, Pablo me liga: - Zé, é de uma tal de Journey.

Massa! Deve ser a "Separate Ways", ou a "Dont Stop Believing", pensei. O Journey é um daqueles grupos de hard rock pós-progressivo do início dos anos 80 - aquele tipo de rock que tocava nas propagandas de cigarro Hollywood -, gênero que sumiu do mercado quando o pessoal do glam rock - aqui no Brasil, "rock farofa" - dominou as paradas.

Vasculhei o meu acervo, mandei pro Pablo, que confimou: É a Separate Ways.

Fiquei emocionado.

Quanto tinha meus seis ou sete anos, ganhei um LP chamado "Flipper Hits II", que embora tivesse aquele formato de coletanea pop comum no início dos 80, e que lideravam as discotecas da gurizada ao lado dos "discos de música de novela", tinha clássicos inesquecíveis e indiscutíveis, como "Rock the Casbah", do Clash, "Africa", do Toto, e a baba "Up Where We Belong", do Joe Cocker. Claro que na época eu não sabia de nada disso, botava o LP na vitrola e mandava ver altão, até a mãe mandar baixar.

É crianças, se vocês não sabem o que significa "botar o LP na Vitrola", perguntem aos seus pais. Ou avós.

"Separate Ways" era umas faixas que eu mais ouvia, ao lado de "Rock the Casbah" e "Domo Arigato Mr Roboto" - que eu não lembro agora de quem é. Depois eu olho no you tube.

Então, tocar essa música com meus próprios dedos e cordas seria uma experiência freudiana muito doida.

Aí fui no YouTube procurar os vídeos. Achei o clipe original - que é um monumento à sensacional tosquice dos anos 80:

Não consigo trazer o link do clipe original pra cá. Para ver o original, clique aqui.

Repara só nos caras "tocando instrumentos invisíveis"!! Fazendo pose de bandinha de desenho Hanna Barbera!! Fazendo cara-de-mau à la Village People!! Enfim, uma verdadeira enciclopédia de clichês dos tempos heróicos da pré-história do VideoClipe. Uma época em que os caras não se maquiavam nem escolhiam figurino, e o diretor era apenas aquele amigo gente fina da banda.

(Depois vieram Michael Jackson, John Landis, Thriller, e tudo mudou.)

Enfim, o clipe é tão clássico mas tão clássico que tem dúzias de remakes "homenageando" o clipe na web. Este é apenas um deles. Um dos melhores na minha humilde opinião.



Depois fui procurar um vídeo desta música ao vivo, sempre é legal pra ter mais idéias pro arranjo cover - solos diferentes do disco, viradas de batera, essas coisas.

Encontrei este vídeo:



Fiquei confuso. Uma mega show no Chile?

Em 2008?

Pôxa, os caras voltaram? Ou nunca pararam? E tão com tudo em cima?

E quem é esse japinha com nome de latino que tá nos vocais?

...

Olhei o vídeo de novo e reconheci os outros componentes da formação original da banda. Pensei, legal, os velhinhos resolveram montar um mega retorno! Chamaram um guri pros vocais, botaram música no filme do Jim Carrey, devem estar dando entrevista na Oprah e no Letterman, essas coisas. E olha o pique dos caras em torno do japinha/peruano/seilá - rejuvenescidos, mais um milagre do rock´n roll.

Mas a história é ainda mais legal.


Olhem o que aprendi hoje na Wikipedia.

Arnel Pineda não é japonês nem peruano. É filipino. E não é nenhum guri, tem pouco mais de 40 anos, três filhos, o mais velho já com seus dezoito. Ainda em 1988, sua banda - chamada AMO - venceu a etapa filipina do festival asiático Yamaha Explosion - que imagino ser um FestValda gigantesco -, com um cover de Bohemian Rhapsody. A AMO se apresentou na final em Hong Kong, mas não disputou o prêmio pois defendia um cover.

(Não sabem o que é o FestValda? Crianças, perguntem ao seu tio caçula!)

A banda de Pineda seguiu na cena de Manila, disputou outras edições do festival Yamaha, mudou de nome e de formação. Emn 1991, foram todos tocar em Hong Kong. Em 1994, o cara quase perdeu a voz por conta de problemas de saúde, e parou por um tempo. Em 1998, estava de novo na noite de Hong Kong, e em 1999, gravou um disco solo pela Warner - que fez um ou dois hits no Oriente, sucessos até hoje nos karaokês da vida por lá.

Aí, começa o fim da história. Ou como diria George Lucas, "uma nova esperança".

Em 2006, Arnel Pineda voltou ao show biz filipino, para integrar uma banda chamada ZOO, que já nasceu grande, produzida por um figurão da TV local. A banda se tornou habitué de grandes casas de show de Manila, como o Hard Rock Café Manila, onde cantavam músicas próprias e muitos covers, em shows com mais de três horas de duração. Contratada pela MCA, a ZOO lançou seu primeiro disco, Zoology - criativo, não? - que engrenou dois hits por lá.

Com o sucesso e o reconhecimento na noite de Manila, fãs começaram a gravar e postar performances da ZOO no YouTube. Covers do pop rock dos anos 80 e início dos 90. Guns, Aerosmith, Toto, Survivor, Heart, Van Halen, Asia...

E foi no YouTube que os caras do Journey, do outro lado do Pacífico, assistiram aquele cara cantando as suas músicas.


Dont Stop Believing.


Separate Ways.

E não acreditaram no que viram. E ligaram pra ele.

E o chamaram pra banda.

E gravaram um novo disco com os seus velhos sucessos interpretados por um novo vocalista.

E estão "on tour" pelo mundo.

E tocaram no Super Bowl.

E estão compondo músicas inéditas, e regravarão músicas de Pineda já conhecidas na Ásia, mas ainda inéditas na América.



Entrevista na CNN


Um milagre da web 2.0.

Mais uma prova que essa joça, ainda que mal usada na maior parte do tempo, é de fato um ferramenta de democratização de informação, talentos e oportunidades. Mais um passo na história dessa humanidade que não pára de se globalizar e de acelerar sua comunicação, desde que chineses inventaram o papel, e os povos da Rota da Seda inventaram o comércio internacional.

Logicamente, como tudo o mais que acontece hoje em dia, há um debate furioso nas caixas de comentários ao redor do planeta. "Esse cara não é de nada", "Não está ao pés de Steve Perry", "O Journey fez uma péssima escolha". Enquanto outros louvam Pineda e metem o malho em Perry, chamando-o de velhote, acabado e coisa e tal. Claro que é desnecessário ficar discutindo quem é melhor, se o vocalista original da Journey ou novo que vem das Filipinas. Mas a turma gosta é de bater boca. Gregos e troianos, tucanos e petralhas, bernardinhos e zés robertos, Lost´s e Heroes´, tanto faz.

O que importa é que a web aprontou mais uma. O rock´n roll agradece.

Esta história já começa espetacular.

E desejo boa sorte também aos caras da ZOO, e ao novo vocalista que assumiu o posto de Pineda.



Aí está a nova formação da ZOO cantando "Africa", do TOTO. Que aliás, era a segunda faixa do lado A do LP Flipper Hits II, logo depois de "Separate Ways".

Axé!

PS: Ah, ia me esquecendo. O tal megashow no Chile -postado lá em cima - foi a estréia de Pineda no Journey. Que pressão, hein?

Um comentário:

Lu Ribeiro disse...

adorei!!! pesquisou bastante e montou um texto bem gostoso de ler mesmo pra qm não conhece nada de rock... três coisas vieram a minha mente enquanto lia:
1) o q rolou com o vocalista original?
2) o filipino usa o mesmo formol que o Dinho Ouro Preto?
3) lembra qd o roupa nova apresentou o novo vocalista/baterista no xou da xuxa? ele era um menino e os outros uns coroas, hoje ele tá coroa e outros continuam do mesmo jeito...
bjs