(texto publicado no Jornal da Afipea)
O Grupo E já começa deixando o torcedor confuso. Como assim a Suíça é
a cabeça-de-chave, enquanto a França apenas completa o grupo, junto com
Honduras e Equador? Afinal, todos nós somos do tempo em que
cabeça-de-chave era uma honra reservada aos que tinham títulos no
currículo, ou ao menos um terceiro lugar, como foi o caso da Polônia em
1986 e da Bélgica em 1990.
Mas, Suíça?
Bem, o ponto é que a Suíça fez a melhor campanha nas eliminatórias
europeias, por isso ficou bem no tal ranking da Fifa, que foi usado como
critério pra eleger os cabeças-de-chave. O grupo da Suíça nas
eliminatórias, vamos combinar, era uma baba. Ou uma briga de faca no
escuro, depende de como você olha. Suíça, Eslovênia e Noruega
disputariam em condição de igualdade a vaga direta e a vaga na
repescagem, enquanto Islândia, Chipre e Albânia cumpririam tabela. Bom,
não sei o que aconteceu, mas Noruega e Eslovênia deixaram a desejar, a
Suíça disparou, e a vaga na repescagem ficou com a Islândia – que
infelizmente perdeu o duelo para a Croácia. Digo infelizmente porque,
jogando meu Football Manager 2005, já levei a Islândia não apenas à
Copa, mas a um honroso quarto lugar, escrete liderado pelo matador
Gudjohnsen.
Mas voltemos à Suíça. Em 2010, apesar de ter vencido a Espanha que
seria campeã, perdeu para o Chile e ficou no 0 a 0 com Honduras – duelo
que aliás se repetirá agora, sob o gélido inverno de Manaus. Também não
se classificou para a Eurocopa 2012, e embora tenha participado da Euro
2008 por ser anfitriã, caiu já na fase de grupos. O que poderá ser feito
de diferente desta vez?
Talvez uma vaga nas oitavas, a depender do desempenho de quatro
jogadores: Behrami e Inler, a dupla de volantes criativos e bons
chutadores que comandam também o meio campo do bom time do Napoli,
terceiro lugar no Italiano; e Shaquiri e Xhaka, velozes meias-atacantes
de apenas 22 anos, hoje respectivamente reservas de luxo no Bayern
Munich e no outro-Borussia-que-não-é-o-Dortmund.
Apesar do nome de lutador de Morkal Kombat, Xhaka e Shaquiri nasceram
em Kosovo no início da longa década de 1990 nos Balcãs, fugindo das
guerras ainda bebês junto com suas famílias para a Suíça. Behrami,
aliás, também é nascido em Kosovo. O que me faz pensar que bela seleção a
Iugoslávia teria sido nos últimos 20 anos, não fossem as guerras.
Inler, por sua vez, é filho de turcos, e todos estes quatro meio
campistas da Suíça são muçulmanos.
Muçulmanos também são Ribery, Benzema e Zidane, craques da França.
Ops, mas o Zidane não vai jogar. Pois é, e o Ribery também não. Então
temos que nos atualizar sobre quais os nomes que podem despontar no
escrete francês. O jovem zagueiro Rafael Varane, que com apenas 21 anos
já é uma espécie de 12º jogador do Real Madrid é uma boa aposta, assim
como também vale a pena observar o igualmente jovem Paul Pogba, titular
absoluto no meio campo da Juventus campeã do Italiano, ao lado de Andrea
Pirlo.
No ataque, a vaga de Ribery deve ser disputada por Griezmann, que fez
um caminhão de gols no Espanhol jogando pelo Real Sociedad, mas que eu
confesso nunca tinha ouvido falar dele até este exato momento. Mas quem
eu gostaria de ver assumindo a vaga no ataque titular é Olivier Giroud,
por um motivo muito simples: no meu time no PES ele é um artilheiro
cabeceador espetacular, nível Jardel. Se na vida real ele tiver a testa
tão eficaz quanto no videogame, a França pode se tornar um oponente
ainda mais indigesto, pois o esquema do técnico Deschamps explora bem o
apoio dos laterais Debuchy e Evra, segundo dizem.
Nas eliminatórias, a França teve um caminho muito mais duro que a
Suíça: caiu no grupo da Espanha, vejam vocês. Franceses e espanhóis
despacharam sem problemas os coadjuvantes Geórgia, Finlândia e
Bielo-Rússia, mas no duelo direto a Fúria levou a melhor com uma vitória
e um empate, empurrando a França para o duelo de repescagem com a
Ucrânia. No primeiro jogo, a Ucrânia abriu 2 a 0 jogando em casa e
colocou a mão na vaga. Mas os franceses conseguiram 3 a 0 no jogo de
volta, com uma arbitragem polêmica. Não tão polêmica quanto aquela da
mão do Thierry Henry, na repescagem de 2010. Mas é que ficou estranho o
fato de que, minutos após ter anulado um gol legítimo de Benzema, o
juizão validou um gol do cara em absurdo impedimento. Ficou a impressão
de que alguém mandou um "bizu" pro árbitro sobre o gol mal anulado, e aí
ele resolveu validando o lance seguinte.
Honduras, pra mim e pra muita gente, sempre será o time do
inesquecível Arzu, goleiro intransponível que quase levou sozinho seu
time à classificação pra segunda fase em 1982, não fosse os dois
pênaltis assinalados, única forma encontrada de fazer gol naquele
gigante. A bandeira de Honduras estampou por um bom tempo a caixinha de
fósforos usada como goleiro no meu time de botão. Do meu time de
Masters, onde Arzu jogava junto com Garrincha, Eusébio e Passarela. No
meu time “normal”, o goleiro era o Jorge Lourenço, e os craques, Berg,
Mazolinha e Josimar – ser botafoguense nos anos 1980 não era nada
fácil...
O time atual de Honduras é formado por jogadores que se dividem entre
o futebol hondurenho, as “leagues” norte-americanas, e times ingleses
de menor expressão. A exceção é o jovem meia Andy Najar, 21 anos,
formado no DC United, mas que hoje é titular no meio campo do belga
Anderlecht. Devem ser observados também o experiente Wilson Palacios,
meia que já teve dias melhores jogando no Tottenham ali por 2010 e 2011,
e hoje compõe elenco no Stoke City; e o atacante Jerry Bengtson, que
aparentemente não levou seu faro de gol na bagagem quando saiu de
Honduras para jogar no New England Revolution, de Massachussets.
Bengtson, aliás, fez mais gols em um único jogo das eliminatórias do
que em toda a temporada na Major League: fez três na acachapante vitória
por 8 a 1 sobre o Canadá, que confirmou a vaga de Honduras no hexagonal
final (ahn?) das eliminatórias da Concacaf. Ficar entre os quatro
primeiros no hexagonal a partir daí seria até fácil, bastava ficar na
frente de Panamá e Jamaica, e depois encarar a Nova Zelândia na
repescagem. Mas foi ainda mais fácil: o México se complicou tanto no tal
hexagonal que ficou em quarto, deixando a vaga direta pra Honduras, e
coube então aos mexicanos a tarefa de atravessar o Pacífico e carimbar a
vaga no passaporte dando duas chineladas nos all-blacks.
Em seu último amistoso antes da estreia contra a França lá no
Beira-Rio, a retranca de Honduras conseguiu segurar um 0 a 0 contra o
belo, porém geriátrico, escrete da Inglaterra. Como parece ser
frequente, teve um hondurenho expulso, o que pode ser fatal nos jogos da
Copa.
O Equador, que estreia na Copa enfrentando a Suíça aqui no Mané
Garrincha, fez a quarta melhor campanha nas eliminatórias da América do
Sul, que é a única em formato de pontos corridos. No desempate, deixou o
quinto lugar e a partida de repescagem para o Uruguai, que como está
mais do que acostumado em carimbar a vaga, Copa após Copa, nesse bendito
jogo extra contra Australias, Uzbequistões e assemelhados, não teve
nenhum problema para despachar a Jordânia, por 5 a 0.
Mas o Equador construiu sua campanha toda nos jogos em casa – sete
vitórias – enquanto que nos jogos como visitante só conseguiu três
empates. O time é quase todo formado por jogadores que atuam nos
principais times do Equador – LDU, Emelec e Barcelona. Do meio pra trás,
o time não impressiona. Basta dizer que Erazo, titular da zaga, não tem
ficado nem no banco de reservas do Flamengo. Do meio pra frente, a
coisa muda um pouco. O craque do time é Antonio Valencia, titular do
Manchester United, como meia aberto pela direita, mantendo o português
Nani na reserva há pelo menos três temporadas. Acostumado a jogar em
alto nível, é dele a responsabilidade por municiar os atacantes Felipe
Caicedo, artilheiro do time nas eliminatórias, e Enner Valencia,
artilheiro do Clausura mexicano pelo Pachuca, e que fez gol em todos os
quatro amistosos do Equador em 2014.
Este texto não teria sido possível sem as informações contidas no
site soccerway.com; no Álbum de Figurinhas Oficial da Copa; e no
Especial Placar Guia da Copa 2014.
Curiosidades:
Não é surpreendente que a Copa com maior media de público tenha sido a
de 1994, nos Estados Unidos? Nada menos que 68.991 torcedores por
partida, muito à frente da segunda posição, que é da Copa de 2006 na
Alemanha, com 52.491 torcedores. Não vai dar pra tirar esse recorde:
apenas o Mané Garrincha e o Maracanã tem capacidade máxima maior do que a
media de 1994. Mas talvez dê pra beliscar a segunda posição: Itaquerão,
Mineirão e Castelão superam os 60 mil como lotação máxima, e os
renovados Fonte Nova e Beira-Rio beiram os 50 mil.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário