quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Finalmente!! A Sapucaí virou uma página

Tá legal,antes de mais nada vou logo avisando: não entendo nada de Carnaval, muito menos de Escola de Samba. Mas vou dar meus pitacos.

Por razões familiares e geográficas, me entendo como torcedor da Mocidade Independente de Padre Miguel - coisa que nos últimos 10 ou 12 anos não tem tido a menor graça. Respeito o passado de glórias da Portela e, apesar de adorar os gigantescos compositores que a Mangueira gerou para a música brasileira, sempre torcia contra na hora da apuração.

(Talvez porque o mangueirense mostrasse uma certa empáfia que me lembrava a dos flamenguistas, mas isso já é outra história)

Aí havia Beija-Flor, Salgueiro, Vila Isabel - escolas as quais eu era indiferente -, União da Ilha e Caprichosos de Pilares com seus sambas irreverentes,

"Aquela seleção Nacional - e derreteram a Taça na maior cara-de-pau!"

("E por falar em saudade", Pilares 1985)

e o Império Serrano - que tinha forte torcida na minha rua porque na época o seu puxador de samba (Interprete! corrigiria Jamelão) era nosso vizinho.


Bum Bum Paticumbum Prugurundum, Imperio Serrano, 1982. Interprete: Quinzinho.

E haviam as que se revezavam subindo e caindo do grupo Especial: São Clemente, Império da Tijuca, Unidos do Cabuçu, e Unidos da Tijuca.

Na virada da década, Renato Lage deu á Mocidade de Padre Miguel o título de 1990, com um enredo auto-biográfico (pasmem), e a seguir o bicampeonato com as águas em 1991.



O tri que deveria ter vindo em 1992 com "sonhar não custa nada" não veio. Começavam os anos 90.

Ah, pára tudo. Esqueci de um desfile inesquecível. (Hum, frase infeliz.)

A Kizomba, Festa da Raça. Vila Isabel, 1988. Centenário da Lei Áurea, uma escola inteira, africana como nunca se viu, nem antes nem depois. E eu, que sempre apagava depois da terceira ou quarta escola, perdi o sono de tão desnorteado e virei a noite vendo as escolas que vieram depois "cumprindo tabela" na avenida.

Valeu Zumbi! O grito forte dos Palmares...


Aí os anos 80 acabaram, Carlos Imperial se foi, a apuração nunca mais seria a mesma sem o seu indefectível "Dez, Nota Dez!!, a Viradouro atravessou a ponte, a Grande Rio se tornou a escola preferida dos globais etc etc


Com a chegada dos nos anos 90, de triste memória para tantas e tantas e tantas ramificações da cultura deste pobre planeta, veio o domínio dos desfiles técnicos, perfeccionistas, obras da ciência tanto quanto da arte. Começava a era dos carnavais "nota dez de ponta a ponta" da Imperatriz Leopoldinense de Rosa Magalhães. Após alguns vice campeonatos, a Beija Flor abriu mão do legado de Joasinho Trinta - inovador e vitorioso nos anos 70 - e passou também a desfilar de modo tecnicamente perfeito rios e rios de branco e prateado pela Sapucaí, colecionando títulos na primeira década do século XXI.

Para saber mais sobre os grandes de cada década - Fernando Pamplona, Joasinho Trinta, Fernando Pinto, Rosa Magalhães, Alexandre Lousada leia o breve artigo Escolas de samba, décadas de estilos e mudanças, de Jaime Cezario.

Anos e anos de estética perfecionista não me geravam nenhum interesse em acompanhar os desfiles. Nos anos 90, já sabíamos antes de começar o carnaval que a Imperatriz seria campeã, a Beija Flor seria vice e o Salgueiro ganharia o Estandarte de Ouro do jornal O Globo. No novo século, os vices variavam. E uma daquelas escolas "gangorra" que subiam e desciam do grupo especial beliscou dois vice-campeonatos: a Unidos da Tijuca.

Nessa época eu já não via mais desfile, imagina. Mas acho que a Tijuca deve ter sido uma das primeiras a desfilar, pois me lembro de passar na fretne da TV em algum momento e me deparar com o hoje histórico "carro do DNA", em que dezenas de homenzinhos azuis se remexiam.

(Pulem logo pro momento 5:33, que é o que interessa)


Lógico que achei aquilo muito diferente. Sensação parecida de quando as comissões de frente deixaram de ser a Velha Guarda da escola, e passaram a ser coreografadas, se não me engano com a Intrépida Trupe na Mocidade de Renato Lage, nos anos 90. Fui procurar depois, e fiquei sabendo que a Tijuca estava com um carnavalesco estreante, o tal Paulo Barros.

(Poxa, o cara tava já há 10 anos ralando no grupo de acesso, mas enfim, estava estreando no grupo especial.)

Em 2007, o cara foi pra Viradouro, uma escola maior, pra ganhar campeonato. E enfiou a bateria dentro de um carro alegórico, exigindo malabarismos na hora de entrar e sair do recuo na avenida.

Criou uma fama de "criativo demais", inconsequente até. Fernando Pamplona o elogia e detona ao mesmo tempo nesta entrevista de 2007.

Demitido da Viradouro, passou pela Renascer de Jacarepaguá (a escola de samba, não a igreja) e pela Vila Isabel antes de voltar à Unidos da Tijuca e ser campeão em 2010. A página da eterna revelação foi virada. Mas ele se tornará um vencedor como o Joasinho Trinta dos anos 70? Ou voltará a ser "incompreendido" como foi Fernando Pinto nos anos 80, com o seu solitário título de 1985?

E quanto ao Carnaval? Ou melhor, e quanto ao espetáculo cenografico que chamamos desfile de escola de samba? Acho que foi virada uma página também.

A criatividade foi premiada, isso é uma boa notícia.

Os carros alegóricos e fantasias da Tijuca, apesar de "criativas", são compreensíveis!!! Não é preciso esperar o pseudo-comentarista da TV ler o release para explicar afinal o que aquele carro cheio de penas e brilhos e mulheres e resplendores pretende representar.

Isso me parece também uma boa notícia.

Voltou-se a falar da importância do carnavalesco enquanto artista e gênio. Isso pode ser uma boa notícia em relação ao padrão impessoal e sem personalidade da "comissão de carnavalescos" que vinha sendo adotado crescentemente no últimos anos. Mas pode ser uma péssima notícia se continuarmos falando muito do carnavalesco e nada ou quase nada da Escola.

Correndo o risco de falar uma grande bobagem, vejo o Paulo Barros como um cara que traz a linguagem do cinema e efeitos especiais pra avenida, distinto da geração que dominou os últimos anos, mais afeita, sei lá, às belas artes. Mais próximo do Fernando Pinto de Ziriguidim 2001 do que da Imperatriz dos anos 90, portanto. Esse é um dos motivos por que me animei a escrever este post sobre escola de samba, sendo total e assumidamente doente do pé, com orgulho.

Outra razão é que, se a moda pegar, talvez volte a ser legal assistir os desfiles e esperar que surpresas trará a próxima escola, o próximo carro, a próxima ala. Enquanto entretenimento e cultura pop globalizada, o céu é o limite.

Claro, tem muita gente preocupada. Mas e o Carnaval? E o samba no pé?

(Sejamos francos né turma? Pra resolver isso só com máquina do tempo.)

Ouçam - e degustem - esse samba de 1977, por exemplo. Ultimo ano do desfile na Presidente Vargas.

Domingo - União da Ilha, 1977.



Para saber a terceira razão, vc terá que ver o compacto do desfile da Unidos da Tijuca 2010 até o final.



Realmente genial né?

Axé!


PS: Sim, ele já usou o Batman em desfiles anteriores. Deve gostar de gibis, esse Paulo Barros.

PPS: Sim, já usou esquiadores também.

PPPS: É ou não é as-sus-ta-dor o acervo que está no You Tube?

PPPPS: Está provado: com o Google, qualquer um pode escrever sobre qualquer assunto!!!